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Foto do escritorJuan Ricthelly Vieira da Silva

XIXI DE MACACO


Por Juan Ricthelly


O nome científico é Spathodea campanulata, nativa da África, considerada uma praga que possui o seu plantio proibido em alguns lugares do Brasil, sempre a conheci como Xixi de Macaco, e ela tem uma ligação forte com a minha infância.


Na esquina da Quadra 24 do Oeste, onde o ônibus vira, ao lado do prédio azul, havia uma, toda vez que passo por lá e observo o lugar onde ela esteve, ou quando vejo algum espécime florido, me recordo de algum momento da minha meninice, onde eu, meu primo Jonas, o primo dele Pedro, e os meninos da quadra, brincávamos esguichando o líquido dos frutos daquela árvore nos rostos uns dos outros, escorria pelo corpo, empapava as roupas e dava uma coceira do caralho.


Lembro disso com certa nostalgia, que me leva automaticamente aos conflitos infantis que costumava ter com Pedro, saíamos na porrada o tempo inteiro, seja por ele bater nas outras crianças, que me pediam proteção, por ser o único que o enfrentava, ou por conta de quem seria a vez de jogar a partida de videogame, tínhamos uma rivalidade incomum para duas crianças, mas ao mesmo tempo tínhamos um convívio de irmãos e amigos de infância, que com o passar dos anos se torna mais importante do que todas briguinhas bobas de criança... Fiquei muito triste quando ele foi assassinado tão jovem, não tinha nem 20 anos, quando vi o seu corpo caído no chão numa poça de sangue, coberto por um pano branco e várias pessoas ao redor, não cheguei perto, não quis ver aquilo, fiquei observando de longe em um triste silêncio.


"Mataram o Ariri!" — Uns cochichavam, outros berravam aos prantos.


Ariri... Era assim que ele era conhecido por todo mundo, embora pouca gente ainda se lembre de onde veio esse apelido, mas eu me lembro... De um personagem de novela das sete, que era feito pelo José Wilker, que era homossexual e tinha um cabelo louro oxigenado... o Ariel.


Mais ou menos naquela época, o Pedro inventou de oxigenar o cabelo, e a associação com o personagem foi automática, começou na escola, foi pra rua, pra dentro de casa e pra vida... E aí Pedro deixou de ser Pedro, virou Ariel e depois Ariri, alcunha que ele adotou em caráter definitivo.


E é curioso como uma espécie de árvore invasora africana se desdobra nesse caleidoscópio de lembranças, histórias e pessoas que já não estão mais aqui, assim como aquela árvore, onde colhíamos xixi da macaco para brincar na 24 do Oeste.

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