Para além da história contida em um livro, cada livro tem a sua própria história, que está escrita em uma capa desbotada e meio rasgada, no nome do dono escrito em letra de próprio punho, no autografo e dedicatória com data ou sem, numa página amassada, em palavras destacadas por marca texto ou observações rabiscadas...
O fato é que não raras vezes, um livro circula por vários donos, ao longo de décadas e até séculos, cruza fronteiras nacionais e internacionais, e quantas histórias ele contaria se pudesse nos falar o caminho que percorreu até parar em nossas mãos, estantes ou bibliotecas particulares?
Um livro nasce na mente de seu escritor, se materializa por meio de alguma editora, que o transforma em objeto e mercadoria, chega nos leitores de diversas maneiras, e se não forem parar em fogueiras ou lareiras, seguem o seu próprio caminho.
Observo a minha biblioteca particular, com aproximadamente 200 obras, a maioria adquiridas em Sebos. Olho para uma versão de luxo em espanhol de Dom Quixote, adquirida em Havana num sebo ao ar livre, a coleção incompleta de Os Pensadores que venho montando pacientemente ao longo dos anos, uma edição de As Veias Abertas das América Latina, que adquiri numa livraria de um shopping, pulsa silenciosamente em seu lugar, Tolkien está lá, junto com as Crônicas de Gelo e Fogo de George Martin, que estacionou no quinto livro há mais de uma década e não termina de escrever nunca, também não falta Machado de Assis, Shakespeare, Bukowiski, Vinícius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade...
No meio disso tudo, há livros que li mais de uma vez, outros que nunca nem abri, alguns que parei na metade e tantos outros que tenho vontade de reler algum dia.
Sou ateu, mas tenho uma sessão inteira com livros religiosos, exotéricos e espiritualistas, Buda, Kardec, o Alcorão, a Bíblia, o Livro de Mórmon também estão lá, junto com Karl Marx, Engels, Lenin, Fanon, Nkrumah, bem ao lado, tenho uma parte só de biografias, com Che Guevara, Bolívar, Marighela e Trosky...
Também reservei uma parte especial para livros de pessoas conhecidas, Histórias Próximas da Verdade do icônico Manuel Pretto está nesse grupo, junto com uma coletânea de poetas gamenses (Um Gama de Poesias), com introdução de Lelê Teles, e poemas de Negodai Miranda, Joaquim Rodrigues, Bruno Frank, Walter Sarça, Juliana e outros.
Alguns desses livros chegaram até mim de primeira mão, outros passaram por várias pessoas antes de irem parar na biblioteca da minha sala, também emprestei alguns que jamais foram devolvidos, confesso que também fiz empréstimos que não devolvi até hoje, mas o fato é que, não importa quantos anos passem, quantas décadas cada um daqueles livros permaneça sobre a minha posse, um dia seguirão o seu próprio caminho, e seguramente irão alcançar outras pessoas, parando em alguma biblioteca e passando brevemente por algum sebo.
Dia 10/07 o Sebo do Gama completou 9 anos de existência e resistência, é algo importante comemorar, já que se trata do único em nossa cidade, localizado na Feira Permanente.
É um espaço belíssimo que passou por uma repaginada recentemente, que chama a atenção de todo mundo que passa por lá, pela sua organização e capricho, que não para por aí, tem até mimo por lá, marca texto artesanal bonito e até um sachê de chá para bebericar durante a leitura.
Num país onde até recentemente se cogitava tributar os livros, e num mundo onde as gigantes multinacionais como Amazon não reconhecem fronteiras ou limites, ao massacrar editoras e até mesmo cadeias inteiras de distribuição de livros, vendendo livros abaixo do preço só para monopolizar o mercado, os Sebos ainda resistem heroicamente, e precisam ter o seu valor e importância reconhecidos.
O Sebo do Gama é um espaço de democratização da leitura, de compartilhamento do conhecimento, de circulação de ideias e passagem de livros, que chegam e vão a todo instante, como um terminal de transporte em horário de pico.
Vida longa ao Sebo do Gama! Que venham mais 9 anos de muita leitura, literatura e cultura!
SIGA A PÁGINA DO SEBO DO GAMA NO INSTAGRAM:
Comments