11 de Setembro de 1973
Por Juan Ricthelly
Não, não estou falando do 11 de Setembro de 2001 em Nova York, que é uma data importante pelo fato em si e por seus desdobramentos geopolíticos, que iniciou uma “Guerra ao Terror” promovida pelo Estado mais terrorista da história.
Estou falando do 11 de setembro de 1973 no Chile que tem um significado muito mais profundo e dolorido para nós que nascemos no lado sul do Rio Bravo.
Naquele fatídico dia o Chile amanhecia em trevas.
As Forças Armadas, sob o comando do General Augusto Pinochet e o estímulo e cooperação do Governo dos Estados Unidos, bombardearam e invadiram o Palacio de la Moneda, sede da Presidência, dando um golpe no governo democrático e socialista da Unidade Popular. Implantaram a ditadura do terror, que assassinou cerca de 3 mil pessoas, torturou 40 mil e exilou centenas de milhares.
O Presidente da República, Salvador Allende, não renunciou nem se entregou. Defendeu, até o último momento, o mandato democrático que o povo chileno lhe conferiu.
Em seu último discurso, transmitido pelo rádio desde o palácio presidencial onde resistia, nas suas últimas horas de vida, expressou sua convicção de que o seu sacrifício não seria em vão, e anunciou: "Sigam sabendo vocês que, muito mais cedo do que tarde, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor".
Rafael Alberti, grande poeta andaluz, escreveu no dia seguinte: "Ontem, no Chile, morreu um homem/Hoje mesmo, milhares de outros já se levantam/ A morte não acaba nada!"
Para honrar a memória de Salvador Allende, Victor Jara, Pablo Neruda e tantas e tantos outros que tombaram na batalha chilena pela construção de uma sociedade justa e digna, é preciso também levar adiante, aqui e agora, a sua luta pela democracia participativa e pelo socialismo.
A experiência chilena é um exemplo histórico prático da falácia da democracia burguesa, pois o socialismo chegou ao poder no Chile democraticamente, com apoio popular, promovendo mudanças dentro das regras do jogo, com o propósito de reformar as instituições e a sociedade de forma gradual e paulatina.
Diante dessa proposta, o que vimos foi uma reação violenta das elites e seus apoiadores, que não hesitaram em destruir a democracia instaurando a ditadura mais sanguinária do Cone Sul.
A lição que fica para nós é a de que nunca conseguiremos promover as mudanças que acreditamos necessárias jogando esse jogo, pois ele é desenhado para que não ganhemos, e caso consigamos vencer, sofreremos um golpe, pois a direita não tem nenhum pudor em jogar a democracia no lixo na primeira oportunidade.
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