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Foto do escritorJuan Ricthelly Vieira da Silva

NENHUMA ÁRVORE A MENOS

Bosque comunitário cultivado ao longo de 50 anos está ameaçado de desmatamento pelo GDF

Por Juan Ricthelly


Na manhã do dia 20 de Novembro uma movimentação incomum podia ser observada por quem passasse próximo ao bosque localizado na Quadra 2 da SHIS NORTE, um grupo numeroso que ultrapassava uma centena de pessoas, composto por crianças, idosos e moradores da quadra e de outras partes do Gama, se reunia ali debaixo das árvores para discutir sobre a ameaça que começou a pairar sobre as mesmas.

 

Um dia antes, uma equipe foi vista e filmada piquetando o local, com o propósito de determinar o terreno que seria destinado à construção do CAPS III no Gama, uma pauta histórica da nossa comunidade que finalmente encontra um desfecho, algo que deveria ser motivo de comemoração.

Ou seja, o Gama ganha o tão sonhado, urgente e necessário CAPS, mas ao custo do desmatamento e destruição de um bosque/pomar cultivado pela comunidade ao longo de 50 anos. Uma notícia boa, umbilicalmente entrelaçada em outra ruim, que está gerando uma reação negativa da comunidade.

 

E aqui nesse ponto, é importante deixar muito claro, que não se trata de um movimento de resistência comunitária contrário à instalação de um CAPS em nossa cidade, o problema reside no modo em que essa situação está acontecendo.

 

Também é fundamental ressaltar e não ignorar de forma alguma os vínculos e laços comunitários legítimos, que existem entre um lugar e as pessoas que vivenciam esse lugar, pois somente compreendendo esse sentimento de pertencimento, é possível entender como o corte de uma simples árvore ou de um conjunto delas afeta as pessoas que a viram crescer, ganhar forma, fazer uma sombra frondosa, abrigar pássaros e se converter em um ente querido de sua rua ou quadra.

 

Quem não vive ou viveu algo assim, possui dificuldade de compreender essa relação, o que para alguns é só um amontoado de árvores, para outros é um bem comum, que oferece serviços ambientais e proporciona qualidade de vida, seja por meio do efeito estético que uma árvore naturalmente causa, da sensação gostosa que é estar à sua sombra, do oxigênio e limpeza do ar que ela faz gratuitamente, da capacidade de amenizar a sensação de calor nos períodos de seca, da orquestra que as aves abrigadas em seus galhos promovem todas as manhã anunciando um novo dia, então não, não é só uma árvore, é um ente daquela comunidade e do sentimento de pertencimento que ali existe.

 

Então quando o Poder Público promove de forma arbitrária e sem qualquer diálogo com aquela comunidade, algo como o corte de uma árvore, não é nenhum exagero dizer que algumas pessoas se sentirão agredidas, pois aquelas árvores plantadas por aquelas pessoas, que cuidaram delas até serem grandes e fortes os suficientes para se cuidarem sozinhas, presenteando-as com seus frutos, são como parte da família daquelas pessoas.

 

E diante de tais fatos, obviamente haverá uma resistência da comunidade em defesa do que ela mesma construiu sem qualquer apoio do Poder Público, que agora chega com a proposta de destruir um bem comum ecológico comunitário.

 

A Constituição Federal estabelece em seu Art. 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

 

Também é importante mencionar os benefícios inegáveis promovidos pela arborização urbana, cabendo destacá-los:

 

  • Melhoria da qualidade do ar: As árvores captam poluentes e produzem oxigênio; 

  • Redução do calor: As árvores resfriam o ambiente por meio da evapotranspiração e proporcionam sombra; 

  • Absorção de ruídos: As copas das árvores proporcionam isolamento acústico; 

  • Incentivo à atividade física: As áreas verdes proporcionam locais para caminhadas, corridas e outras atividades ao ar livre;

  • Proteção do solo e dos corpos d'água: As árvores ajudam a proteger o solo e os corpos d'água;

  • Conservação da flora nativa: A arborização urbana contribui para a conservação genética da flora nativa;

 

Há ainda uma conexão amplamente documentada sobre o contato com a Natureza e os seus benefícios para a saúde mental das pessoas, sendo alguns deles:

 

  • Redução de sintomas de ansiedade e depressão; 

  • Melhora do humor e da satisfação com a vida; 

  • Aumento da sensação de bem-estar; 

  • Melhora da memória; 

  • Redução de sentimentos de solidão; 

  • Aumento da energia e da concentração; 

  • Melhora dos relacionamentos interpessoais.

 

Diante desse cenário, é até contraditória a construção de um equipamento público de saúde, destruindo um espaço público de uso comum que a promove, ao custo do bem-estar e da qualidade de vida, causando sofrimento inclusive psíquico em parte da nossa comunidade, ou seja, caso essa medida seja levada adiante, ignorando todo o contexto, o CAPS já nascerá aumentando parte da demanda que ele mesmo atenderá.

 

Nós queremos um CAPS no Gama! Mas não de qualquer jeito! O que mais tem é área pública bem localizada na nossa cidade que poderia atender muito bem a essa finalidade. Não precisamos desmatar um bosque para isso.

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