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Foto do escritorJuan Ricthelly Vieira da Silva

HISTÓRIA DO ANIVERSÁRIO DO GAMA (1973-1979)

O nascimento e a consolidação da Feira de Amostra do Gama (FAGAMA)

Foto: Arquivo Público do DF

Por Juan Ricthelly


Em 2024 o Gama completa 64 anos de história, que foi construída ao longo de décadas com a participação de todas as pessoas que já viveram e vivem por aqui, nós somos a consequência viva do passado dessa cidade, e a causa do futuro que ela será para a posteridade.

 

O vínculo entre passado, presente e futuro de uma comunidade é um aspecto essencial de sua identidade, possibilitando que indivíduos compartilhem peculiaridades em comum, uma espécie de identidade coletiva, que muitas vezes se manifesta no bairrismo, que é sempre lembrado o quando o assunto é o Gama.

 

O Gama possui uma identidade, que se manifesta principalmente no orgulho e amor de seus moradores, temos uma cor que nos identifica, um time de futebol, uma escola de samba, uma história, espaços culturais perdidos, artistas que nasceram, vivem e morreram aqui mesmo.

 

Somos a cidade do tradicional Festival de Música Popular do Gama, do rock n’ roll ecológico do Festival Rock Cerrado, um polo tradicional do teatro de bonecos do DF representado pelo Voar e pelo Bagagem, um lugar que da década de 80 para cá teve mais de 30 grupos de Teatro, uma cidade que hoje tem uma vida cultural ativa, defasada no que diz respeito aos equipamentos públicos de cultura, mas que resiste contra tudo e contra todos, onde músicos de todos os gêneros musicais tocam nos bares e restaurantes de segunda a segunda, os poetas proferem seus versos nas praças e ruas como profetas do porvir, os produtores culturais seguem produzindo contra todas as adversidades de uma forma quase que guerrilheira, nesse ponto saúdo aqui a Cia. Lábios da Lua, o teatro segue vivo através do Espaço Semente com a sua estética brasileira, periférica e de terreiro.

 

Tudo isso se refletiu durante anos no aniversário do Gama, numa apoteose coletiva onde os moradores e pessoas de outras cidades se reuniam na saudosa FAGAMA (Feira de Amostra do Gama), uma festa que é lembrada com grande nostalgia, por suas 41 edições que a consolidaram como uma festa popular tradicional do Gama por excelência, com força o suficiente para atrair grandes nomes da música nacional.

 

O aniversário da cidade se aproxima, a última FAGAMA foi em 2019, o modo de se fazer a festa da cidade mudou desde a primeira edição em 1973, saímos de um formato que era protagonizado pela comunidade e a Administração Regional do Gama, para uma proposta onde uma Organização da Sociedade Civil (OSC), normalmente sem qualquer vínculo com a nossa história é contratada para fazer uma festa do jeito que ela quiser, com recursos público, sem qualquer diálogo com a comunidade.

 

O que era uma festa popular com forte viés comunitário, que movimentava a indústria, o comércio, os produtores rurais e a cultura, gerando trabalho e renda para a cidade, virou uma mercadoria gourmet onde os ex-protagonistas viraram meros frequentadores, qual a diferença entre a festa de aniversário do Gama hoje e qualquer outra festa de aniversário de alguma outra cidade?

 

Diante disso, me propus o desafio de estudar e fazer um resgate histórico das festas de aniversário do Gama, partindo desde a primeira edição da Feira de Amostra do Gama (FAGAMA). Como é um assunto muito extenso vou publicar por partes, com uma divisão por décadas. Vou utilizar como fonte de pesquisa matérias de jornal, relatos de pessoas e materiais encontrados na internet.

 

Espero que ao final dessa série especial sobre a festa de aniversário do Gama, possamos lembrar de onde viemos, para que possamos ter alguma ideia melhor de para onde podemos e queremos ir.


DÉCADA DE 70

 

I FAGAMA (1973)

 

A primeira menção à Feira de Amostra do Gama (FAGAMA) no Correio Braziliense é de 30 de Julho de 1973, numa matéria sobre a Associação Comercial e Industrial do Gama (ACIG), sobre uma reunião onde se discutiu como pauta principal o horário de funcionamento do comércio local.

 

Na ocasião, o então Administrador Regional Sílvio Ramos Furquim Leite, declarou que em colaboração com as classes produtoras da região iria organizar a I Feira de Amostra do Gama – FAGAMA na época do aniversário da cidade, a 12 de Outubro, quando seriam expostos em “stands” especiais, tudo o que o Gama produz.

 

Segundo matérias de jornal da época, a I FAGAMA ocorreu entre 6 e 14 de Outubro de 1973 na Praça da Administração Regional, contando com 5 pavilhões compostos de stands do governo demonstrando as obras realizadas na cidade e as previstas, comércio, indústria, agricultura e diversos.

 

Havia um protagonismo visível das fábricas e indústrias instaladas na cidade que produziam bebidas, serralherias, móveis, velas, mesas de sinuca, tijolos, concreto, adubos, brinquedos, produtos alimentícios, máquinas de arroz e etc. capitaneados pela ACIG, que pautava os debates e grandes questões da cidade.

 

Foto: Arquivo Público do DF (Visita ao Parque Municipal do Gama)

O evento contou com a presença do Governador Hélio Prates, e a programação previa uma missa que foi celebrada pelo Arcebispo Dom José Newton, torneio de futebol de salão, exposições, desfile estudantil-militar, provas de atletismo, baile da cidade e show artístico.

 

II FAGAMA (1974)


A segunda edição da FAGAMA aconteceu entre os dias 12 e 20 de Outubro na Praça da Administração Regional com 30 stands organizados pela Administração Regional do Gama, com produtos da indústria local e da agricultura familiar da zona rural e exposição de fotografias das obras públicas em andamento e concluídas.

 

A adesão das empresas e fábricas foi massiva, contando com a participação da Esquadrias Metálicas São Jorge, Cia. Brasilienses de Cervejas Skol-Caracu, VIPLAN, Supermercado Planalto, ARTEC, SAEL, SOPRENACO, Madeireira Transamazônica, Confeitaria Aveiro, Pureza Materiais de Construção, Madeireira Iguaçu e outras, totalizado a incrível marca de quase 60 indústrias participantes num universo de aproximadamente 200 que havia na cidade.


Foi uma festa onde o então administrador regional Antônio Valmir Campelo Bezerra construiu junto com a ACIG, Maçonaria, Rotary e Lions Club, clubes sociais e demais lideranças locais.  



 

O Governador Elmo Serejo e outras autoridades participaram da festividade, que teve como destaque a ampliação da fábrica das Esquadrias Metálicas São Jorge Indústria e Comércio que empregava mais de 500 pessoas e a entrega do Parque Municipal do Gama (Prainha).

 

A programação foi aberta no sábado (12 de Outubro) com uma Missa Campal, seguida de desfile estudantil-militar, abertura da II FAGAMA, inauguração do Parque Municipal do Gama (Prainha) que segundo estimativas, recebeu aproximadamente 5.500 pessoas no fim de semana.  

 

Também teve torneio de futebol de salão, apresentação de música na praça e Baile Oficial da Cidade no clube OPROMESO.

 

No domingo (13 de Outubro) houve solenidade de dispensa e incorporação do Serviço Militar, final do torneio de futebol de campo entre as cidades satélites com a Seleção de Sobradinho vencendo no futebol de salão e de campo. Também aconteceu uma partida de futebol entre Gordos x Magros com os primeiros vencendo por 3x1. Ficando o encerramento daquele dia com um culto evangélico.

 

Os destaques musicais da II FAGAMA foram Carmen Silva e Marcos Roberto.

 

III FAGAMA (1975)

 

O 15º aniversário do Gama contou com o protagonismo do icônico administrador regional Walmir Campelo Bezerra que concedeu uma entrevista coletiva para a imprensa na Biblioteca do Palácio do Buriti anunciando as novidades da festa e os feitos de sua gestão.

 

A III FAGAMA se firmava como um dos destaques do aniversário da cidade, adquirindo o caráter de tradição capaz de integrar e unir a comunidade, tendo como característica marcante a parceria composta pelo governo, por meio da Administração Regional do Gama, a indústria e o comércio representada pela ACIG, os produtores rurais da região, associações de moradores, bem como os Clubes Lions, Rotary e Acácias.

 

O stand da Administração Regional era composto de gráficos, fotografias das obras públicas realizadas e em andamento, espaço para exposição de produtos artesanais fabricados na cidade, quebra cabeça de fotos e mapas para crianças e sala de projeções com exibição de documentário sobre a história do Gama, com sessões a cada meia hora.

 

Dentre as atrações estava o Torneio “Perna de Pau”, disputado pelas equipes da Administração Regional, PMDF, 14ª, Colégio do Gama (Professores), Ginásio Noturno do Gama 01 (Professores) e Lions Club.

 

As atrações esportivas marcaram presença com uma demonstração de ginástica olímpica, exercícios de cama elástica e amistoso de vôlei no Ginásio do Gama, também aconteceu a Inauguração da Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo”, show artístico na FAGAMA e o tradicional Baile da Cidade no OPROMESO.

 

As inaugurações de obras daquele ano foram o Parque Infantil Leste com o seu teatro de arena e um ponto de táxi em frente ao Mercado Leste, sendo um dos primeiros do país.

 

IV FAGAMA (1976)

 

Naquela altura o Gama era uma cidade industrializada, com um comércio forte, produção agrícola pujante, associações de moradores, lideranças e comunidade atuantes, com uma população estimada entre 130 e 150 mil habitantes,  a sua maioria eram operários das quase 200 indústrias que aqui havia.

 

A festa de aniversário da cidade era conjunção dessas características, onde a indústria, o comércio e os produtores rurais exibiam o seu trabalho, o governo presenteava a cidade com inauguração e anúncio de obras públicas e serviços, sendo a Feira de Amostra do Gama (FAGAMA) um elemento dentro da festa que continuava por uma semana após as solenidades.  

 

No dia 12 de Outubro o aniversário contou com a presença do Governador, que inaugurou as praças da São Sebastião e do Cine Itapuã (atualmente Praça Lourival Bandeira), o Parque Infantil do Setor Oeste, a Linha de Ônibus Executivo Gama/Plano Piloto, a Feira Permanente de Produtos Hortifrutigranjeiros com 186 boxes, sendo importante mencionar a inauguração da Igreja São Sebastião com capacidade para 2.500 pessoas, fundada provisoriamente em 1962.

 

Foto: Arquivo Público de Brasília

Teve a tradicional Missa Campal celebrada pelo Arcebispo Dom José Newton, shows artísticos ao longo da semana, tarde esportiva, culto evangélico, abertura da IV FAGAMA, realizações do GDF apresentadas por meio de gráficos giratórios instalados numa cascata artificial que alimentava um curso d’água circular.

 

O administrador Walmir Campelo Bezerra anunciou ainda a construção de um terminal rodoviário, 11 escolas que acrescentariam mais 133 salas aula, o início da primeira etapa do estádio de futebol, reservatório d’água 6 mil litros, início das obras do Centro de Reeducação de Menores, obras de urbanização, passeios, asfalto e plantio de duas mil árvores.

 

V FAGAMA (1977)

 

O Gama tinha 17 anos e a V FAGAMA aconteceria entre os dias 9 e 16 de Outubro na Praça da Administração, como uma feira consolidada que atraia multidões e as autoridades públicas da capital.

 

A programação do aniversário contou com uma Alvorada Festiva e shows artísticos na FAGAMA. O destaque era do Show Barra Jovem, com origem no Programa – Barbosa Neto da Rádio Planalto, uma atração radiofônica de audiência elevada, o motivo de tanto sucesso era o concurso para decidir quem seria o “Rei da Juventude Brasiliense”, que contabilizou 414 mil votos, elegendo o cantor Gino com 111 mil apoios, ficando Roberto Ney em segundo lugar com 103 mil votos.

 

Durante a competição ficou definido que a cidade-satélite que enviasse mais cartas receberia o show de coroação dos vencedores gratuitamente, e o Gama venceu contabilizando 191 mil votos, enquanto o segundo lugar teve apenas 76 mil. Além dos vencedores, se apresentaram os cantores Rui Simas, Tom Viveiros, Dorcas Madeira, Laíde Machado e Kerem.  

 

E não parou por aí! Seguindo a tradição de inauguração de obras e espaços junto ao aniversário, a comunidade recebeu a Praça do Lions, as Escolas Classe 11, 24, 25, 26, 27 e o Centro de Ensino nº 9, aumentando mais 155 novas salas de aula à rede de educação da cidade.

 

Foto: Arquivo Público do DF

Também houve a inauguração do Terminal Rodoviário e ampliação da iluminação pública de 22% para 75% tonando o Gama uma cidade mais iluminada e segura.

 

Mas a joia da coroa era a entrega do Estádio Municipal do Gama, contendo uma pista de atletismo e capacidade para 25 mil pessoas, que futuramente receberia o nome do então administrador Walmir Campelo Bezerra, carinhosamente apelidado pelos moradores de Bezerrão, se convertendo na casa da Sociedade Esportiva do Gama (SEG) que havia nascido apenas dois anos antes (1975).  


A grande estreia seria numa partida de futebol entre o Gama e Botafogo.

 

O Gama foi representado por Chico, Carlão (Osvaldo), César, Santana e Ivair (Isaías); Mundinho, Marcos (Lelé) e Adilson (Rildo); Lucas (Careca), Maninho e Roldão (Chicão). Técnico: Eurípedes Bueno.

 

O Botafogo entrou com o time titular, composto por Zé Carlos, China (Perivaldo), Osmar, Renê e Rodrigues Neto; Luisinho, Mendonça e Mário Sérgio; Gil (Ricardo), Nilson Dias (João Paulo) e Paulo César Lima (Tiquinho). Técnico: Danilo Alves.

 

Segundo o Blog Almanaque do Futebol Brasiliense[1], o público pagante de inauguração do que se tornaria o Bezerrão foi de 15.021, com uma renda arrecadada de Cr$ 286.460,00 e gols de Mendonça (9’) e Gil (57’ e 74’).


Foto: Almanaque do Futebol Brasiliense

 A derrota por 3x0 para o Glorioso teve lances polêmicos, segundo a coluna “Gente e Coisas do Gama” do Correio Braziliense, teve pênalti não marcado a favor do Gama e o terceiro gol não aconteceu de fato, pois a bola vazou a rede por fora.

 

VI FAGAMA (1978)

 

O Gama alcançou a maioridade naquele ano, e a festa de aniversário da cidade aconteceu com o seu formato característico, iniciando no dia 8 de Outubro às 6h com uma Alvorada Festiva, seguida de uma Missa de Ação de Graças na Igreja São Sebastião, inauguração da Praça do Rotary Club na quadra 22 do Setor Leste, abertura da VI FAGAMA na Praça da Administração e inauguração do segundo ponto de táxi do Gama na Feira Permanente, escolas rurais, ampliação de escolas urbanas e encerramento com a inauguração da iluminação do Estádio Municipal do Gama.


VII FAGAMA (1979)


A última FAGAMA da década de 70 aconteceu entre os dias 12 e 20 de Outubro, com a participação do Governador Aimé Lamaison e do administrador Walmir Campelo Bezerra.

1979 foi o Ano Internacional da Criança e a festa da cidade resolveu homenagear convocando 5 mil crianças para receber o governador e trazer uma criança representando cada cidade-satélite do Distrito Federal.


As obras inauguradas foram a Inspetoria de Saúde, a Escola de Aplicação no Centro Educacional 1, 10 salas de aula no Centro de Ensino 9.


O tradicional almoço com o Governador aconteceu no quartel da Polícia Militar, com a participação dos empresários, comerciantes, líderes comunitários e as crianças representantes das outras cidades.


O stand do governo na FAGAMA contava com um robô que informava dados sobre a cidade, um painel da CEB e um mapa do Gama.


Como acontecia todos os anos, houve solenidade de dispensa do serviço militar. As atrações musicais contaram com a participação de artistas do Rio e São Paulo, no Ginásio teve uma série de atividades como corrida de bebês, gincanas e torneios.


Gama e Guará disputaram a Taça Governador Aimé Lamaison no Estádio Municipal (Bezerrão).


Grupos  folclóricos da cidade se apresentaram em praça pública e o Circo Malmequer se instalou entre a Matriz da São Sebastião e o Mercado Leste.



CONTINUA...

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