top of page
Foto do escritorJuan Ricthelly Vieira da Silva

DELITE: Crônica de uma professora mais que querida

Por Juan Ricthelly


Gostaria de desejar um FELIZ DIA DOS PROFESSORES nesse 15 de Outubro, especialmente aos mestres que tive ao longo de minha caminhada em busca de conhecimento, que espero jamais terminar, e certamente a tantos outros que jamais tive e terei, mas que fizeram de suas vidas uma batalha incansável contra a ignorância. Esse texto faz parte de uma coletânea de crônicas que estou escrevendo, e conta um pouco sobre uma das melhores professoras que tive em minha vida, espero que gostem!


DELITE


Todos nós conhecíamos a sua história, sempre que podia ela nós falava do que havia passado, das dificuldades que havia tido para estudar, do sacrifício que sua família havia feito para isso, e do quão pobre era o lugar de onde havia vindo.


Ela foi professora de todos os meus tios, de alguns primos e minha também, na Escola Classe 28, no Setor Oeste do Gama, DF. Ser professora era o que havia feito por toda a sua vida, o magistério era a sua religião, o seu marido, a escola era uma extensão da sua casa, e nós éramos os seus filhos, embora ela não os tenha tido no sentido biológico da palavra.


Por ela passaram futuros advogados, médicos, administradores, engenheiros, arquitetos, policiais, obviamente professores, profissionais e pessoas de todos os matizes.


Ela sempre repetia o que sua mãe dizia a ela toda vez que reclamava dos maus tratos que sofria na casa onde morava para poder estudar:


“Nada do que se passa é pra sempre minha filha! Por mais difícil que seja, suporte, vai passar! Você precisa estudar.”


E dentre tantas lições que ela me ensinou, essa é a que considero mais importante e que até hoje carrego comigo. Ela não se contentava em cumprir somente a grade curricular estabelecida pela Secretaria de Educação, não bastava, e assim ela também nos ensinava sobre a vida.


Nosso tempo juntos acabou, segui estudando, ela formando mais gerações de pessoas, e sempre que podia a visitava, a abraçava e a agradecia. Ela foi a primeira a notar que eu levava algum jeito para a escrita, gostava do que eu escrevia e em razão disso cobrava muito de mim, mais do que dos outros até, me repreendia como uma mãe repreenderia um filho quando eu errava, de um modo que muitos pais não aceitariam atualmente, mas desde cedo eu nunca levava essas questões para casa, não a respondia, e mesmo chateado a ouvia em silêncio.


Um dia fui visitá-la, e ela não me recebeu com o mesmo entusiasmo que normalmente me recebia, foi fria até, fiquei magoado. Até que algum tempo depois recebi a notícia de que ela havia morrido de câncer, e que lutou até o final contra ele, luta era o que havia sido a sua vida inteira, lutou contra a pobreza, contra a grosseria e os maus tratos de quem deveria protegê-la, contra a ignorância ao educar milhares de pessoas durante anos sem parar, e por fim contra o câncer que infelizmente derrotou a única coisa que pôde naquela guerreira incansável tão maltratada pela vida e pelo mundo, o seu corpo, porque a sua alma era inquebrável e tinha a certeza de que tudo passa.


Os que foram seus alunos ao lerem isso, talvez se emocionem ou até mesmo chorem como eu ao escrever sobre essa professora maravilhosa que tivemos a honra de ter.


O que sou hoje e o que eventualmente venha a me tornar, tem a contribuição inegável dessa mulher que já não vaga mais por essa terra maravilhosa e por esse mundo tão injusto.


Costumo dizer que nenhuma profissão é mais importante que outra, que do Gari ao Presidente todos são fundamentais para a vida em sociedade, retórica isso, se pararmos para sermos francos e objetivos, o professor é sem sombra de dúvidas a profissão mais importante de qualquer sociedade que queira dar certo, o tratamento que ele recebe reflete diretamente no contexto geral, e enquanto eles continuarem sendo tratados como lixo, no lixo continuaremos a viver.


12 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page