Por Juan Ricthelly
27 de Setembro é sempre uma data que me traz muita nostalgia, era simplesmente a data mais esperada do ano, o único dia onde eu deliberadamente matava aula, com a permissão da minha mãe e da minha avó.
Elas sabiam o quanto aquele dia era importante pra mim. Então eu acordava cedinho, tomava o café da manhã, esvaziava a mochila da escola e saía pelas ruas da cidade com outros garotos, buscando qualquer lugar onde tivesse balas e doces.
Vários grupos de garotos se cruzavam pelas ruas, cada qual vindo de um lugar diferente, e sempre compartilhando os lugares onde haviam passado e recebido doces.
Na hora do almoço, eu voltava pra casa, comia na velocidade da luz, e voltava pra rua outra vez.
No final da tarde, o ponto de encontro de toda aquela molecada era a Quadra 18 do Setor Oeste, em frente ao Supermercado Escorpião. Uma multidão de adultos, crianças e adolescentes se formava em alvoroço, aguardando o grande momento.
Não demorava muito, e logo a magia começava. Com balas, pirulitos e doces chovendo da sacada, com todo mundo atento e afoito para pegar o máximo que conseguisse, no meio de toda aquela gritaria, empurrões e alegria. Era quase impossível alguém conseguir sair de lá sem nada.
Quando terminava, a maioria de nós estava em êxtase, com a respiração ofegante e o coração acelerado.
Já era quase noite, e eu voltava pra casa com a mochila próxima de explodir. Cansado, exausto, mas inegavelmente feliz!
Esparramava todos os doces e balas que havia conseguido no chão, fazendo uma espécie de inventário e guardando em algum lugar.
Dividia com o irmão mais novo, que algum tempo depois começou a ir pra rua comigo nessa empreitada, e demorava sei lá quantas semanas pra comer aquilo tudo.
Hoje, só consigo lembrar disso tudo com imensa alegria e pensar naquele verso de Casimiro de Abreu:
"Que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais..."
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